terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Só mais um passeio

Sábado de manhã saí para caminhar um pouco. A previsão era de chuva, como de fato aconteceu no período da tarde, mas pela manhã havia um sol modesto e convidativo. 


Resolvi que iria caminhar pelo lado oeste do rio, coisa que eu nunca tinha feito. Tomada essa decisão, passei a próxima: ao invés de pegar o metro, eu fui de ônibus e, depois, trem até Hellichova, com a intenção de conhecer Kampa. Não sei exatamente o que é, mas é uma ilha muito charmosa, a beira do rio, um daqueles momentos em que a saudade do Brasil some (ou chega perto disso).






Escultura de David Černý, ao lado do Kampa Museum. Tenho gostado bastante das coisas desse artista pela cidade.




Dali, a pé, caminhei até Lennonova zeď, para poder tirar uma foto e mandar para minha doce amiga Josenita: ela anda falando mal do meu querido Lennon e isso é quase imperdoável. E é quase só porque é ela que fala, se fosse outra pessoa seria a morte da amizade! 


Ainda, depois, resolvi caminhar mais um pouco, passei na Kostel Panny Marie Vítězné pra dar uma olhada no tal Menino Jesus de Praga. Tinha um menino lá, sem as roupas que eu sempre vi nas fotos pela internet, ma pela quantidade de gente tirando fotos, eu imaginei que ele deveria ser o famoso. Talvez eles estivessem fotografando outra coisa e eu fui enganado, mas tudo bem. Achei divertido encontrar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida dentro da Igreja.


Acabei caminhando de volta até Anděl e almoçando na feira. Divertido ver como qualquer praça, qualquer local, qualquer espaço que possa servir está cheio de feiras nessa época do ano. Eu não tenho paciência de ficar olhando, mas conheço algumas pessoas, como D. Priscila, que tenho certeza que gastariam horas ali. Sorte que, na mesma proporção de feiras eles tem bares, então eu poderia esperar no bar.


Curioso pra amanhã a noite. Meu primeiro natal em anos sem ouvir Simone.

Obs.: Escrevi ao som de Lennon, certo Josi?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Sobre a minha pesquisa

Um dos motivos que me fizeram crer que seria uma boa vir estudar aqui na República Tcheca, era a possibilidade de entrar em contato com um diferente meio acadêmico. Como às vezes é importante dizer o óbvio, lá vou eu: não pensava (e não penso ainda) que a Europa esteja a frente, mais evoluída, que o mundo acadêmico que tive contato no Brasil de modo algum, mas a historiografia brasileira é muito pautada pelos pensadores franceses e eu queria ver algo diferente. 
A primeira diferença eu vi já nos primeiros dias de contato com meu orientador e os professores do programa de Sociologia Histórica. Eu houvia eles falando de 'generalizações' e ficava intrigado pelo fato deles darem um tom positivo a esse conceito. Desde 2005, quando entrei na Univille para iniciar meus estudos em História, eu sempre tinha ouvido e assimilado conotações negativas em relação a ideia de 'geral'. Mas é isso mesmo: eles gostam do geral, e isso se deve ao lado 'sociologia' da tal Sociologia Histórica. É algo que já estou me acostumando.
Agora, o maior desafio, acredito eu, será com relação a organização da metodologia. Para fazer uma discussão mais aprofundada entre a diferença de disciplinaridade, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, eu precisaria de um capítulo de dissertação, pelo menos. Para uma resumo incrível (e que numa leitura mais acurada seria digno de muita crítica) eu digo que vindo do curso de História da Univillle - que tem uma queda interdisciplinar - e fazendo meu mestrado no Programa de Patrimônio Cultural e Sociedade da Univille - assumidamente interdisciplinar - aprendi que o processo principal de pensar a metodologia acontece junto da pesquisa, muito diferente do que eu estou vendo agora. Embora as modificações sejam entendidas e recebidas durante o processo de pesquisa, aqui a ideia de qual metodologia será usada tem que estar muito clara antes de iniciar o processo de pesquisa. E me arrisco a dizer, me parece, não aceita tantas modificações assim - mas pra isso eu preciso estudar mais.
Quanto a literatura diferenciada, até agora me parece que eu estava certo, pois estou encontrando alguns nomes novos no caminho. Dentre as principais leituras até agora, posso citar um livro de Gellner (tudo bem, esse é conhecido no Brasil), de Hroch, de Vermeensch e o que está sendo trabalhado agora, dos sociólogos János Ladányi e Iván Szelényi. Enquanto os dois primeiros livros tratam do tema do nacionalismo, da nação e do sentimento de nacionalidade, os dois últimos são mais ligados diretamente ao tema semi-provisório quase final da minha tese: uma perspectiva global teórica sobre o movimento nacionalista cigano.
Ainda não tenho grandes conclusões nem pensamentos sobre o tema; toda a pesquisa ainda está no começo e, confesso, um pouco devagar: demorei um tempo para pegar o esquema de ler tudo em inglês. Porém, algo muito interessante acontece quando os autores, principalmente Vermeensch e Ladányi e Szelényi, que estão trabalhando diretamente com os ciganos, começam a discutir os preconceitos e os discursos anti-ciganos que existem. Eles são muito semelhantes as falas que se escuta no Brasil quando se quer atacar ou, pelo menos criticar, algumas minorias e sua relação com a cultura vigente e, principalmente, com o poder econômico. As análises são sempre muito rasas, dizendo que os ciganos são pessoas que não gostam de trabalhar, que não respeitam a cultura dos outros e que vivem "mamando" no governo, já que a grande parte dos ciganos desempregados na Europa recebem auxílio governamental.

Pra mim, uma visão muito supérflua de todo o contexto histórico desse povo. Ladányi e Szelényi discutem como, desde o século XIX esses povos, na melhor das hipóteses, estavam semi-segredados da sociedade, vivendo como uma lower class, usando palavras deles, e que depois do comunismo, em alguns locais, eles passaram a ser uma underclass: não só pobres e sem muitas expectativas de futuro, mas também apartados da sociedade, com muito pouco contato com os não-ciganos. Na passagem que mais me indignou de Vermeensch, ele lembra que até a metade do século XVIII, na região que hoje é a Romênia, esses povos eram tratados como escravos, de uma maneira que me pareceu muito próxima do escravagismo negro que aconteceu no Brasil. Ainda discute algo muito interessante sobre a crença de que eles são povos nômades: são nômades ou são sempre expulsos de onde tentam se estabelecer?
Enfim, é um tema empolgante e, ao mesmo tempo, triste. Por estar nessa pesquisa acabo descobrindo que ainda hoje há marchas anti-ciganas por cidades europeias, partidos que assumidamente são contrários ao convívio com esses povos e, até mesmo, algumas ideias sobre colocar os ciganos em campos de concentração para que, enfim, trabalhem (já se ouviu algo semelhante antes, né?).

Mas não se engane: esse crescimento (ou afloramento) do racismo não é problema só Europeu: a América, o Brasil está cheio disso e a última eleição deixou tudo muito claro.

Para quem tiver interesse nos livros:

VERMEERSCH, Peter. The Romani movement: minority politics and ethnic mobilization in contemporary Central Europe. New York: Berghahn Books, 2006, xiv, 261 s. ISBN 9781845451028.

GELLNER, Ernest. Nations and nationalism. 1st publ. New York (NY): Cornell University Press, 1983, viii, 150 s. ISBN 0-8014-9263-7.

HROCH, Miroslav. Social preconditions of national revival in Europe: a comparative analysis of the social composition of patriotic groups among the smaller European nations. New York: Columbia University Press, c2000, xix, 220 s. ISBN 978-0-231-11771-5.

LADÁNYI, János a Iván SZELÉNYI. Patterns of exclusion: constructing Gypsy ethnicity and the making of an underclass in transitional societies of Europe. Boulder: East European Monographs, 2006, vi, 227 s. ISBN 0-88033-574-2.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Sobre a neve (ou pelo menos um pouco de neve....)

Ontem estava frio. Eu sei que vai piorar, mas ontem estava frio. Eu olhava o tempo lá fora, de dentro da biblioteca, e vendo aquele chuvisco ficava imaginando como eu voltaria pra casa (preciso mesmo comprar um guarda-chuva). 
Eram 18:00h, eu estava cansado e resolvi voltar para o lar. Pensei em ir correndinho para chegar o mais cedo possível e, no primeiro passo escorreguei com os dois pés. Só não caí no chão porque... eu não sei como não caí no chão. Tentar explicar essa fato por alguma agilidade corporal minha seria mentira e, mesmo que eu tentasse provar, ninguém acreditaria. A verdade é que a calçada estava congelada e, até chegar em casa, foram vários escorregões leves com a apoteose no momento de subir a pequena rampa que leva ao meu prédio: tive que me segurar no corrimão e dar passos muito bem calculados para não me esborrachar no chão. Muito embora tenha sido algo que eu nunca tinha visto na minha vida, calçadas congeladas não seriam a última novidade.
Em casa, estudando, olhei a previsão do tempo e vi que já haviam pontos da cidade onde estava nevando. Neve fraca mas, pra quem nunca nem tinha passado perto de neve, era neve! Vi que a previsão dizia que nevaria na cidade toda essa noite então, quando fui dormir, fiquei na expectativa. E hoje de manhã foi essa a paisagem que eu descobri:

Os bons observadores vão perceber que essa foto acima foi tirada na mesma posição que a capa desse blogue.





É isso. Mesmo que pequena neve, foi minha primeira e, definitivamente, é mais fácil andar na neve do que na calçada congelada. Ouvi dizer que o pior é quando derrete: vamos esperar!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Uma noite no Museu

Primeiro eu atesto que sim, sinto vergonha do título dessa postagem. Mas entre todas as idéias que eu tive, nenhuma tinha sido melhor do que essa. O final de semana eu passei em Náhlov e, como sempre quando vou lá, foi altamente divertido. Imponderado, inesperado, imprevisível e divertido.
Nesse final de semana foi inaugurada uma outra parte da exibição do Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil, o mesmo museu que eu trabalhei em minha dissertação. Então saí de Praga sábado a tarde para ir me divertir e ajudar nessa festa. Petr, dono do museu, tinha me requisitado preparar caipirinhas e qualquer amigo meu sabe que sou extremamente talentoso nesse processo (como tonalidade vocálica não aparece em blogues, quero deixar registrado aqui que houve ironia na confecção dessa frase).



A festa foi um sucesso (Para ver fotos clique aqui), todos tomaram as caipirinhas, teve feijoada, teve quibe, teve pão de queijo, teve capoeira e música brasileira interpretada por um violonista daqueles que me faz ter vergonha de ter um violão em casa. Quando essa parte das festividades teve fim, começou o 'lado b' das comemorações: nós que tínhamos ajudado sentamos para tomar um pouco de cachaça com limão, vinho, Merunkovice (destilado de damasco), Hruškovice (destilado de pêra) e cerveja. As discussões foram de Governo PT, passando por Apartheid e chegando ao ciganos europeus.

Esse momento se estendeu até as 3:30h da manhã, bem perto dos aquecedores e terminou com a belíssima cena de Eva e eu comendo resto frio de feijoada, vinagrete e farofa com colheres de sobremesa direto da panela. O domingo chegava e a gente tinha que voltar pra casa....
Não tem ônibus que sai de Náhlov. Não tem trem. Não tinha carros suficientes para nos dar carona e, então, Eva, mais dois companheiros e eu, resolvemos que a melhor opção seria caminhar até Stráž pod Ralskem e a partir de lá tomar um ônibus para Praga. Esse plano seria perfeito, se não fossem quase 11km de caminhada. 






Mas a verdade é que, tirando um certo cansaço em demasia ontem a noite e uma enorme dor no corpo hoje, a caminhada foi bastante divertida. Passamos por casinhas que eu moraria facilmente, por monumentos, por ciclovias, e até mesmo a viagem para Praga foi tranquila.


Como disse, mais uma visitar Náhlov foi imponderado, inesperado, imprevisível e divertido. Bastante divertido.

A maioria das fotos não são minhas e, algumas eu não tenho certeza de quem foi o fotógrafo. Mas sei que tem algumas que foram tiradas pela Cíntia, outras pela Lucy - novos amigos tcheco-brasileiros ou tupy-tchecos, não sei como definir. Se algum fotógrafo não tiver sido contemplado com o nome, é só gritar que eu referencio.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Entre batatas e cenouras

Aos que não sabem, eu conto: vim pra Praga e trouxe junto na bagagem não uma recomendação médica, e sim uma ordem bem especifica e bem clara (tenho impressão que o médico até falava lento e separava as sílabas quando me explicava) de que eu deveria perder peso. De cara pensei que não seria tão difícil, como de fato não tem sido, porque longe da Priscila eu poderia me manter mais disciplinado em relação a alimentação. Como ela não engorda com nada, fica difícil pra ela não pensar em comer aquela pizza na quarta-feira a noite!
Desde que cheguei, meu prato diário trocou o arroz com feijão e farinha de mandioca por tomate, cebola e pimentão fritos, uma batata e um pedaço de linguiça ou ovos. Estaria funcionando perfeitamente se não fosse pelo fato de que eu não gosto de batata. Na verdade, dessas coisas que eu estou comendo, eu só gosto das partes de origem animal. Só que ontem eu resolvi modificar um pouco: comprei uma cenoura pra colocar no lugar da batata!! Também não gosto de cenoura, mas pelo menos mudaria um pouco a rotina.
A primeira coisa que foi necessária foi uma consulta aos colegas e amigos pelo grupo do Whatsapp: "como se come cenoura?", "cenoura tem casca?" e "como se descasca cenoura?" foram as perguntas mais importantes. Apesar de ser um grande fã de bolo de cenoura, principalmente o que era feito pela saudosíssima Vó Euripa (com bastante cobertura de chocolate....), minhas recordações do sabor desse vegetal laranja eram tão ruins que eu tinha certeza de que eu jogaria até o prato fora, para evitar memórias futuras. Enfim, hoje eu cozinhei a cenoura.



A primeira preocupação foi resolvida facilmente: tinha esse descascador de batatas na gaveta e foi realmente muito rápido para tirar a fina casca leguminosa alaranjada. Nesse momento o cheiro do elemento em questão já subiu às minhas narinas e a certeza de que iria "dar merda" foi crescendo. Cortei em rodelinhas e coloquei para cozinhar.


Nesse quesito eu já vi mais uma desvantagem: demora pra cozinhar mais do que batata. Enquanto isso, na panela ao lado eu fritava o pimentão amarelo, a cebola e a linguiça. Como demorou, vim no quarto, arrumei a cama e tudo mais. Quando eu senti que o garfo já entrava na cenoura sem tanta resistência, escorri a água, joguei no prato e coloquei sal e pimenta do reino em cima. Alguma coisa tinha que disfarçar o gosto do ser alaranjado.


Juro que fiquei quase um minuto olhando o meu prato antes de começar a comer. Eu sei que é um exagero, mas eu sentia como Bear Grylls prestes a comer algum inseto esquisito, e sem ganhar nenhum dinheiro em troca por isso.


Comi. Não gostei. A tática utilizada foi comer primeiro a cenoura, para ter que acabar logo com isso, normalmente enfiando junto na boca uma fatia de tomate para disfarçar o gosto. Tomei quase um litro de água junto e não sei se esse menu vai se repetir. Não sei... foi mais ou menos a mesma sensação que tive quando comi batata cozida do almoço pela primeira vez, mas batata tem mais "gosto de nada". Mas, o que mais me influencia é que, até agora, ninguém provou que eu tenho nenhuma vantagem trocando, esporadicamente, a minha batata diária por uma cenoura.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Meu primeiro aniversário gelado

E, com absoluta certeza, esse foi o primeiro aniversário da minha vida abaixo de 15ºC. Tenho quase certeza de que eu poderia afirmar até mais, que foi o primeiro abaixo de 20ºC, mas vou ficar com a primeira opção para não errar. Quando saí de casa ontem me deparei com essa paisagem e dei aquela conferida na previsão do tempo.





Não há dúvidas que será um dia que ficará marcado. Como quando, na sétima séria, a supervisora da escola chamou todo mundo para a sala, porque o professor Alcides iria dar aula. Era final de novembro, nos idos dos anos 1990, ninguém mais dava aula depois de quinze de novembro, passávamos quase o tempo todo na sala de vídeos (lembro de ter assistido Titanic e Pânico naquele ano). Fui o caminho todo reclamando, falando mal de todo mundo e, não sei porque, fui o último a entrar na sala e ver um bolo enorme pra mim.

Teve também uma festa já por volta de 2006 num salão de festas, festa que não foi programada. Mas não tenho muitas recordações desse dia. Ou a festa com temática de ET's que tive três anos atrás. Chope em casa, comidalança, calor, todo mundo de verde e, também, aquelas imagens de ET's que me dão calafrios até hoje. Aquela montagem que tem um alien atrás de mim no corredor do apartamento que eu morava em Joinville me faz arrepiar só de lembrar.




Na verdade, eu possivelmente estou sendo injusto e esquecendo de outros tantos aniversários que foram divertidos, mas hoje é o meu primeiro aniversário tcheco. Hoje ainda mais comedido, mais sério e mais compenetrado, afinal falta pouco para os trinta. E hoje, talvez eu esteja um pouco solitário mas, parafraseando Vinicius de Moraes: "A cerveja é a melhor amiga do homem, a cerveja é o cachorro engarrafado". 
Resolvi, lá pelas 18h ir dar uma volta no centro e tomar uma cerveja. Fui direto no Staroměstský klub, perto de Staroměstské náměstí: Pilsner Urquell barata e tudo mais. Quando estava lá, achei que seria melhor dar uma caminhada e resolvi ir embora. Foi quando o garçom me chamou pelo nome e eu fiquei um pouco assustado. Na verdade, só tinha ido lá uma vez antes, depois do show do Stiff Little Fingers e eu acho que ele notou minha cara de espanto, porque disse: "aqui não é um lugar que vem muitos turistas!" 
Assim, acabei indo parar no U vystřelenýho oka, e, depois, já no fim da noite, caminhei um pouco para sentir o frio da cidade. E acredite, a caminhada do Oka até a estação de metrô de Florenc foi gelada perto das 23h.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"E como você foi parar em Praga?"

Uma pergunta que tenho respondido muito é: "O que você está fazendo em Praga?". Depois de explicado que vim para estudar, vem a pergunta sub-sequente (sempre as mesmas, parece até ensaiado): "Mas porque Praga?". Pra essa a resposta é meio grande, mas eu vou tentar resumir.
Em 2011 eu estava em casa, meio cabisbaixo. A despeito de eu estar trabalhando com pessoas muito divertidas, eu ainda estava um pouco deprimido por não ter dado conta de trabalhar com alunos do Ensino Fundamental de uma escola de Joinville - tive que me demitir. Foi aí que a camarada Cibele me convenceu a tentar o mestrado na Univille. Assim que aprovado as coisas começaram a acontecer como um turbilhão, literalmente, e uma tremenda série de coincidências fez com que eu me mudasse para a rua Bochovská nesse 2014.
A primeira foi o fato de, justamente nesse ano, meu agora amigo Petr Polakovic enviar um email para a Univille querendo fazer contato, pois ele tinha um museu sobre a emigração da República Tcheca para o Brasil. Na mesma época professora Sandra (que era minha orientadora) estava iniciando um projeto sobre representações sobre o Brasil e os brasileiros em museus do exterior. Uma coisa se casou com a outra e, num dia muito quente, ela me propôs estudar esse museu. Mas as coincidências não acabam por aí...
Em 2013 vim a República Tcheca para conhecer o museu. Porém, para justificar a minha viagem, eu precisava vir e faze algo mais do que "apenas" minha pesquisa de campo: seria preciso pelo menos um congresso onde eu pudesse apresentar meu trabalho. Estava tudo certo para eu vir em junho pra Europa, apresentar em um congresso em Portugal e, depois, vir pra República Tcheca conhecer o museu. No último momento, achei um congresso em Praga, a ser realizado na Faculdade de Humanas da Universidade Carolina em julho - uma época muito melhor para mim!

Sentadinho no chão do Castelo de Praga/2013

Nesse congresso, pensando em escolher qual mesa assistir, resolvo ir em uma que teria uma apresentação sobre os Alemães da Boêmia. O participante que eu queria assistir não apareceu, mas lá estava para mostrar o seu trabalho o professor Maslowski: nos conhecemos naquele dia, continuamos uma conversa por emails e hoje ele é meu orientador.
São muitas coincidências, eu sei! Mas hoje sei que estou aqui, vivendo a menos de cinco minutos da Faculdade de Humanas da Universidade Carolina...

domingo, 23 de novembro de 2014

Uma tarde em meio a aristocracia local

Ontem estive numa venda de antiguidades. Barbora, amiga que fiz já na minha primeira viagem a Praga está trabalhando nesse local e me convidou para conhecer. Como tinha que ir no banco, acabei indo cedo para o centro de Praga e caminhando um pouco antes de encontrá-la. Achei um outro brechó e só não sai com roupas de lá porque não tinha nada masculino, também encontrei essa escultura. Olhando de longe eu não conseguia identificar, mas chegando perto eu não conseguia evitar lembrar de O vingador do Futuro. Tudo bem que a escultura (seria realmente uma escultura?) da pequena praça perto da rua Chorvátová era bem mais bonita... mas lembra!



Depois, me encontrei com Barbora e fomos até a feira, próxima a Karlovo náměstí. Ela foi trabalhar e eu fui olhar o local, que era enorme!!!

Lá dentro eu pude me perder. Quem me conhece sabe que eu não me sinto a vontade em locais de comércio, normalmente me entedio rápido, mas não ali. Apesar do clima aristocrático, foi muito divertido olhar peças originais de duzentos, trezentos ou até mais anos de idade. De quadros a broches, cadeiras, espadas e revólveres, numismática e tantas outras coisas divertidas. Havia uma radiola que eu definitivamente daria minha alma por ela, se minha alma tivesse valor comercial.
Mas o clima aristocrático era inegável: era só olhar nas pessoas que estavam ali e me olhar para ver que eu não era do mesmo time. Todos aqueles casacos bonitos, tão chiques... Houve um momento em que eu estava na frente de um estande pensando na vida, programando o que eu faria com as 2000 CKZ que estavam no meu bolso, imaginando que eu tinha que viver duas semanas com esse dinheiro. Então o senhor do meu lado abriu a carteira para pagar um anel e eu vi materializada a diferença de classes: haviam muitas notas, e nenhuma menor do que 5000 CKZ. Ele usou muitas delas pra pagar o anel (sim, eu estava prestando atenção na vida dos outros!!).
Entre as coisas que eu mais quis comprar, uma estava no estande onde Barbora estava trabalhado, então eu pude fotografar. Não era das coisas mais caras do local, mas ainda sim eu teria que deixar uma semana de vida ali.

Depois que saí de lá fiz mais uma caminhada pela cidade, me perdendo nos meios de alguns becos que eu ainda não conhecia, vendo a noite cair no meio da tarde. A foto da ponte e do Castelo foi tirada por volta das 16:50h.




Como era sábado e eu tinha estudado bastante nessa semana, achei que eu merecia conhecer um local novo. No caminho do metrô resolvi parar em U Medvidku e experimentar essa cerveja que é feita por eles mesmo. Mas só experimentar, porque 50 CKZ em um caneco de cerveja é algo considerável. Além disso comidas com cara muito boa passavam por mim a todo momento e estava morrendo de fome. Achei melhor sair dali antes de comprar algo que eu não devia!


Nesse sábado a noite foi ao som de Clash, Stiff Little Fingers e, de vez em quando, Taylor Swift. Também ri muito com The Baseballs cantando "Ai se eu te pego". Semana que vem vou a Náhlov, mas preciso ir conhecer o 007. Vamos ver...

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Uma cerveja não mata...

Sabe aqueles dias em que você tenta, tenta e tenta, mas o trabalho não desenvolve? Foi ontem! Depois de limpar a casa e almoçar, fui a biblioteca mas a leitura não teve a fluência esperada. Pessoalmente eu acredito que isso significa que é hora de dar uma parada e descansar um pouco o pensamento, e foi o que eu fiz. Fui para o centro ontem tomar uma cerveja e aproveitei para fazer algumas fotos.


Rua Nekázanka





Ali no centro eu gosto de ir ao Tučňák e a razão é bem simples: é talvez o bar mais barato do centro de Praga. Pagar apenas 26 CKZ em um caneco de cerveja é sempre algo que me agrada. Além disso fica numa rua calma, as pessoas que vão lá não incomodam e está a menos de cinco minutos de Mustek, o que faz ser simples de voltar pra casa depois. Vó Lina me fez prometer que eu não tomaria muita cerveja, o que eu estou cumprindo, mas de vez em quando é importante.




E, ainda, vou treinando todo o meu profundo conhecimento da língua tcheca: ontem pedi uma cerveja em tcheco, agradeci em tcheco e ainda treinei um pouco o famigerado 'ř'. Minha amiga Eva, que estava me acompanhando ontem e me ajudou a tomar umas duas doses de bitter e a cerveja preta da foto, disse que eu estou melhorando. Tenho certeza de que ela é muito gentil.