sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Entre batatas e cenouras

Aos que não sabem, eu conto: vim pra Praga e trouxe junto na bagagem não uma recomendação médica, e sim uma ordem bem especifica e bem clara (tenho impressão que o médico até falava lento e separava as sílabas quando me explicava) de que eu deveria perder peso. De cara pensei que não seria tão difícil, como de fato não tem sido, porque longe da Priscila eu poderia me manter mais disciplinado em relação a alimentação. Como ela não engorda com nada, fica difícil pra ela não pensar em comer aquela pizza na quarta-feira a noite!
Desde que cheguei, meu prato diário trocou o arroz com feijão e farinha de mandioca por tomate, cebola e pimentão fritos, uma batata e um pedaço de linguiça ou ovos. Estaria funcionando perfeitamente se não fosse pelo fato de que eu não gosto de batata. Na verdade, dessas coisas que eu estou comendo, eu só gosto das partes de origem animal. Só que ontem eu resolvi modificar um pouco: comprei uma cenoura pra colocar no lugar da batata!! Também não gosto de cenoura, mas pelo menos mudaria um pouco a rotina.
A primeira coisa que foi necessária foi uma consulta aos colegas e amigos pelo grupo do Whatsapp: "como se come cenoura?", "cenoura tem casca?" e "como se descasca cenoura?" foram as perguntas mais importantes. Apesar de ser um grande fã de bolo de cenoura, principalmente o que era feito pela saudosíssima Vó Euripa (com bastante cobertura de chocolate....), minhas recordações do sabor desse vegetal laranja eram tão ruins que eu tinha certeza de que eu jogaria até o prato fora, para evitar memórias futuras. Enfim, hoje eu cozinhei a cenoura.



A primeira preocupação foi resolvida facilmente: tinha esse descascador de batatas na gaveta e foi realmente muito rápido para tirar a fina casca leguminosa alaranjada. Nesse momento o cheiro do elemento em questão já subiu às minhas narinas e a certeza de que iria "dar merda" foi crescendo. Cortei em rodelinhas e coloquei para cozinhar.


Nesse quesito eu já vi mais uma desvantagem: demora pra cozinhar mais do que batata. Enquanto isso, na panela ao lado eu fritava o pimentão amarelo, a cebola e a linguiça. Como demorou, vim no quarto, arrumei a cama e tudo mais. Quando eu senti que o garfo já entrava na cenoura sem tanta resistência, escorri a água, joguei no prato e coloquei sal e pimenta do reino em cima. Alguma coisa tinha que disfarçar o gosto do ser alaranjado.


Juro que fiquei quase um minuto olhando o meu prato antes de começar a comer. Eu sei que é um exagero, mas eu sentia como Bear Grylls prestes a comer algum inseto esquisito, e sem ganhar nenhum dinheiro em troca por isso.


Comi. Não gostei. A tática utilizada foi comer primeiro a cenoura, para ter que acabar logo com isso, normalmente enfiando junto na boca uma fatia de tomate para disfarçar o gosto. Tomei quase um litro de água junto e não sei se esse menu vai se repetir. Não sei... foi mais ou menos a mesma sensação que tive quando comi batata cozida do almoço pela primeira vez, mas batata tem mais "gosto de nada". Mas, o que mais me influencia é que, até agora, ninguém provou que eu tenho nenhuma vantagem trocando, esporadicamente, a minha batata diária por uma cenoura.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Meu primeiro aniversário gelado

E, com absoluta certeza, esse foi o primeiro aniversário da minha vida abaixo de 15ºC. Tenho quase certeza de que eu poderia afirmar até mais, que foi o primeiro abaixo de 20ºC, mas vou ficar com a primeira opção para não errar. Quando saí de casa ontem me deparei com essa paisagem e dei aquela conferida na previsão do tempo.





Não há dúvidas que será um dia que ficará marcado. Como quando, na sétima séria, a supervisora da escola chamou todo mundo para a sala, porque o professor Alcides iria dar aula. Era final de novembro, nos idos dos anos 1990, ninguém mais dava aula depois de quinze de novembro, passávamos quase o tempo todo na sala de vídeos (lembro de ter assistido Titanic e Pânico naquele ano). Fui o caminho todo reclamando, falando mal de todo mundo e, não sei porque, fui o último a entrar na sala e ver um bolo enorme pra mim.

Teve também uma festa já por volta de 2006 num salão de festas, festa que não foi programada. Mas não tenho muitas recordações desse dia. Ou a festa com temática de ET's que tive três anos atrás. Chope em casa, comidalança, calor, todo mundo de verde e, também, aquelas imagens de ET's que me dão calafrios até hoje. Aquela montagem que tem um alien atrás de mim no corredor do apartamento que eu morava em Joinville me faz arrepiar só de lembrar.




Na verdade, eu possivelmente estou sendo injusto e esquecendo de outros tantos aniversários que foram divertidos, mas hoje é o meu primeiro aniversário tcheco. Hoje ainda mais comedido, mais sério e mais compenetrado, afinal falta pouco para os trinta. E hoje, talvez eu esteja um pouco solitário mas, parafraseando Vinicius de Moraes: "A cerveja é a melhor amiga do homem, a cerveja é o cachorro engarrafado". 
Resolvi, lá pelas 18h ir dar uma volta no centro e tomar uma cerveja. Fui direto no Staroměstský klub, perto de Staroměstské náměstí: Pilsner Urquell barata e tudo mais. Quando estava lá, achei que seria melhor dar uma caminhada e resolvi ir embora. Foi quando o garçom me chamou pelo nome e eu fiquei um pouco assustado. Na verdade, só tinha ido lá uma vez antes, depois do show do Stiff Little Fingers e eu acho que ele notou minha cara de espanto, porque disse: "aqui não é um lugar que vem muitos turistas!" 
Assim, acabei indo parar no U vystřelenýho oka, e, depois, já no fim da noite, caminhei um pouco para sentir o frio da cidade. E acredite, a caminhada do Oka até a estação de metrô de Florenc foi gelada perto das 23h.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"E como você foi parar em Praga?"

Uma pergunta que tenho respondido muito é: "O que você está fazendo em Praga?". Depois de explicado que vim para estudar, vem a pergunta sub-sequente (sempre as mesmas, parece até ensaiado): "Mas porque Praga?". Pra essa a resposta é meio grande, mas eu vou tentar resumir.
Em 2011 eu estava em casa, meio cabisbaixo. A despeito de eu estar trabalhando com pessoas muito divertidas, eu ainda estava um pouco deprimido por não ter dado conta de trabalhar com alunos do Ensino Fundamental de uma escola de Joinville - tive que me demitir. Foi aí que a camarada Cibele me convenceu a tentar o mestrado na Univille. Assim que aprovado as coisas começaram a acontecer como um turbilhão, literalmente, e uma tremenda série de coincidências fez com que eu me mudasse para a rua Bochovská nesse 2014.
A primeira foi o fato de, justamente nesse ano, meu agora amigo Petr Polakovic enviar um email para a Univille querendo fazer contato, pois ele tinha um museu sobre a emigração da República Tcheca para o Brasil. Na mesma época professora Sandra (que era minha orientadora) estava iniciando um projeto sobre representações sobre o Brasil e os brasileiros em museus do exterior. Uma coisa se casou com a outra e, num dia muito quente, ela me propôs estudar esse museu. Mas as coincidências não acabam por aí...
Em 2013 vim a República Tcheca para conhecer o museu. Porém, para justificar a minha viagem, eu precisava vir e faze algo mais do que "apenas" minha pesquisa de campo: seria preciso pelo menos um congresso onde eu pudesse apresentar meu trabalho. Estava tudo certo para eu vir em junho pra Europa, apresentar em um congresso em Portugal e, depois, vir pra República Tcheca conhecer o museu. No último momento, achei um congresso em Praga, a ser realizado na Faculdade de Humanas da Universidade Carolina em julho - uma época muito melhor para mim!

Sentadinho no chão do Castelo de Praga/2013

Nesse congresso, pensando em escolher qual mesa assistir, resolvo ir em uma que teria uma apresentação sobre os Alemães da Boêmia. O participante que eu queria assistir não apareceu, mas lá estava para mostrar o seu trabalho o professor Maslowski: nos conhecemos naquele dia, continuamos uma conversa por emails e hoje ele é meu orientador.
São muitas coincidências, eu sei! Mas hoje sei que estou aqui, vivendo a menos de cinco minutos da Faculdade de Humanas da Universidade Carolina...

domingo, 23 de novembro de 2014

Uma tarde em meio a aristocracia local

Ontem estive numa venda de antiguidades. Barbora, amiga que fiz já na minha primeira viagem a Praga está trabalhando nesse local e me convidou para conhecer. Como tinha que ir no banco, acabei indo cedo para o centro de Praga e caminhando um pouco antes de encontrá-la. Achei um outro brechó e só não sai com roupas de lá porque não tinha nada masculino, também encontrei essa escultura. Olhando de longe eu não conseguia identificar, mas chegando perto eu não conseguia evitar lembrar de O vingador do Futuro. Tudo bem que a escultura (seria realmente uma escultura?) da pequena praça perto da rua Chorvátová era bem mais bonita... mas lembra!



Depois, me encontrei com Barbora e fomos até a feira, próxima a Karlovo náměstí. Ela foi trabalhar e eu fui olhar o local, que era enorme!!!

Lá dentro eu pude me perder. Quem me conhece sabe que eu não me sinto a vontade em locais de comércio, normalmente me entedio rápido, mas não ali. Apesar do clima aristocrático, foi muito divertido olhar peças originais de duzentos, trezentos ou até mais anos de idade. De quadros a broches, cadeiras, espadas e revólveres, numismática e tantas outras coisas divertidas. Havia uma radiola que eu definitivamente daria minha alma por ela, se minha alma tivesse valor comercial.
Mas o clima aristocrático era inegável: era só olhar nas pessoas que estavam ali e me olhar para ver que eu não era do mesmo time. Todos aqueles casacos bonitos, tão chiques... Houve um momento em que eu estava na frente de um estande pensando na vida, programando o que eu faria com as 2000 CKZ que estavam no meu bolso, imaginando que eu tinha que viver duas semanas com esse dinheiro. Então o senhor do meu lado abriu a carteira para pagar um anel e eu vi materializada a diferença de classes: haviam muitas notas, e nenhuma menor do que 5000 CKZ. Ele usou muitas delas pra pagar o anel (sim, eu estava prestando atenção na vida dos outros!!).
Entre as coisas que eu mais quis comprar, uma estava no estande onde Barbora estava trabalhado, então eu pude fotografar. Não era das coisas mais caras do local, mas ainda sim eu teria que deixar uma semana de vida ali.

Depois que saí de lá fiz mais uma caminhada pela cidade, me perdendo nos meios de alguns becos que eu ainda não conhecia, vendo a noite cair no meio da tarde. A foto da ponte e do Castelo foi tirada por volta das 16:50h.




Como era sábado e eu tinha estudado bastante nessa semana, achei que eu merecia conhecer um local novo. No caminho do metrô resolvi parar em U Medvidku e experimentar essa cerveja que é feita por eles mesmo. Mas só experimentar, porque 50 CKZ em um caneco de cerveja é algo considerável. Além disso comidas com cara muito boa passavam por mim a todo momento e estava morrendo de fome. Achei melhor sair dali antes de comprar algo que eu não devia!


Nesse sábado a noite foi ao som de Clash, Stiff Little Fingers e, de vez em quando, Taylor Swift. Também ri muito com The Baseballs cantando "Ai se eu te pego". Semana que vem vou a Náhlov, mas preciso ir conhecer o 007. Vamos ver...

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Uma cerveja não mata...

Sabe aqueles dias em que você tenta, tenta e tenta, mas o trabalho não desenvolve? Foi ontem! Depois de limpar a casa e almoçar, fui a biblioteca mas a leitura não teve a fluência esperada. Pessoalmente eu acredito que isso significa que é hora de dar uma parada e descansar um pouco o pensamento, e foi o que eu fiz. Fui para o centro ontem tomar uma cerveja e aproveitei para fazer algumas fotos.


Rua Nekázanka





Ali no centro eu gosto de ir ao Tučňák e a razão é bem simples: é talvez o bar mais barato do centro de Praga. Pagar apenas 26 CKZ em um caneco de cerveja é sempre algo que me agrada. Além disso fica numa rua calma, as pessoas que vão lá não incomodam e está a menos de cinco minutos de Mustek, o que faz ser simples de voltar pra casa depois. Vó Lina me fez prometer que eu não tomaria muita cerveja, o que eu estou cumprindo, mas de vez em quando é importante.




E, ainda, vou treinando todo o meu profundo conhecimento da língua tcheca: ontem pedi uma cerveja em tcheco, agradeci em tcheco e ainda treinei um pouco o famigerado 'ř'. Minha amiga Eva, que estava me acompanhando ontem e me ajudou a tomar umas duas doses de bitter e a cerveja preta da foto, disse que eu estou melhorando. Tenho certeza de que ela é muito gentil.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sobre a preguiça e, talvez, a insegurança.

Kde domov můj? Kde vlast je má?
Voda hučí po lučinách,

bory šumí po skalinách,
v sadě skví se jara květ,
zemský ráj to na pohled!
A to je ta krásná země,
země česká domov můj,
země česká domov můj!


Kde domov můj!? Kde domov můj!?
V kraji znáš-li bohumilém
duše útlé v těle čilém,
mysl jasnou, vznik a zdar
a tu sílu vzdoru zmar,
to je Čechů slavné plémě
mezi Čechy domov můj!
mezi Čechy domov můj!


Aparentemente essa é a letra do Hino da República Tcheca e sim, é com essa linguagem que eu preciso conviver o dia inteiro. Uma enormidade de consoantes e acentos que me deixam bastante perdido a maior parte do tempo. Uma vez, na rua, eu juro que vi uma palavra que demorou sete letras para ter a primeira vogal: parei e fiquei tentando achar uma maneira de pronunciar e não encontrei. 
Um dos bares que eu mais gosto de ir se chama U Vystřelenýho Oka, e eu tenho praticado há um mês para tentar pronunciar corretamente. A primeira vez que fui sozinho, levei um papel com o nome escrito e, quando fui pedir informações, eu olhei para o rapazote no meio da rua e perguntei mostrando o papel: "onde fica isso?"
O nome do bar carrega com ele o maior inimigo, ao meu ver, dos que tentam se aventurar no tcheco: o 'Ř'!!! O som representado por esse sinal é uma mistura de 'R' com 'J', com uma pitada de 'Z', mas falado com os dentes serrados. É isso aí...
Mas a verdade é que eu já tenho algumas palavras presentes no meu vocabulário e tenho tentado usar cotidianamente. 'Dobrý den' [bom dia], dobrý večer [boa noite], prosím [por favor], děkuji [obrigado], e mais umas duas ou três expressões, eu já me sinto a vontade para usar cotidianamente (percebam que não há o 'Ř' presente em nenhum caso). Menos no mercadinho da faculdade: e aí é que entra o que eu não sei se é preguiça ou insegurança. Os dois que trabalhamos no mercado, uma moça e um rapaz, falam inglês e, independentemente de todas as vezes que eu saí de caso planejando chegar, abrir a porta e dizer 'dobrý den', eu sempre solto um 'hello' e me arrependo em seguida.
Não tenho tempo para fazer aulas de tcheco, mas gostaria. Acho tão divertido o jeito que eles falam. Quem sabe num futuro próximo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

De Belfast à Jablonec

Não, eu não saí da República Tcheca nesse final de semana, mas sábado a noite eu me senti um pouco em Belfast.
Em junho, quando vim a Praga pra fazer o exame de admissão no doutorado, eu descobri que em Against Me! iria tocar em Lucerna. Fiquei extramente tentado a ir mas, pelo orçamento curto e, principalmente, por ser na véspera do exame eu deixei passar. A primeira coisa que fiz quando cheguei a Praga novamente foi a olhar a programação de Lucerna e, qual não foi a minha surpresa, quando eu vi o show do Stiff Little Fingers.
A primeira coisa que tenho que dizer é que, apesar de conhecer a banda há muito tempo, não sabia mais do que uma ou duas músicas. Conhecia de ouvir na casa de amigos ou nas bodegas da vida. Quando decidi que eu iria ao show, procurei conhecer as músicas e comecei a ter certeza de que ia ser bom. E foi!





 




Uma coisa é você ir num show de uma banda que você conhece a vida toda e se divertir muito. Outra, completamente diferente, é estar numa apresentação de uma banda que você conhece apenas há um mês e sentir-se como um fã desde o primeiro LP. No ingresso afirmava: início as 20h. Quando eram 19:50h eu pensei "é cedo, mas vou entrar!". Desci as escadas e estava comprando uma cerveja quando de repente, eles começam a apresentação. Olhei no relógio a pontualidade não poderia ser maior.




Gentilmente intrometido fui me colocando o mais perto possível do palco, pra sentir a banda! Alguns copos de cerveja voavam pelos ares, eu já estava bastante molhado, mas isso não incomodava de maneira nenhuma. Só estava um pouco triste que não tinha rolado nenhuma 'roda' um pouco mais divertida para eu me jogar. Tudo mudou com Suspect Device e, como o local não estava realmente lotado e as pessoas estavam bastante empolgadas (me incluo neste grupo), foi muito difícil me manter em pé. Fim de show e não eram nem 22h. Ainda deu tempo de passear um pouco pelo centro de Praga.


O Domingo foi marcado pela "Noite Brasileira" em Liberec. Fui levado pelo meu camarada Petr para participar do evento e fiquei encarregado das caipirinhas. Depois de um mês, eu comi arroz, eu comi feijoada e eu comi muita farofa. Não sei se deu pra matar a saudade ou aumentar, porque eu fiquei com a boca cheia de água enquanto escrevia esta última frase. Conheci bons brasileiros, tive uma calorosa discussão política ainda pautada na dicotomia Aécio/Dilma, andei pelo centro de Liberec com uma placa escrita em tcheco fazendo propaganda do evento e terminei a noite em Jablonec nad Nisou, dormindo numa casa construída no século XVIII, sob o cobertor mais confortável da minha vida. Se eu entendi bem, feito de pelos de animais.


E quando eu achei que a animação do final de semana prolongado (hoje é feriado por aqui) tinha acabado, a volta pra casa foi um pouco tensa, mas divertida. O ônibus a partir de Jablonec para Praga estava lotado. Assim, peguei o 'circular' e fui para Liberec (que é mais longe do que minha memória representava pra mim), um tanto quanto tenso, pois sabia que não havia muitas vagas disponíveis nos ônibus. Na verdade, eu não fazia ideia de onde estaria esse ônibus. Em pé, no centro de Liberec, tentando ligar para meus novos amigos brasileiros para pedir ajuda, um senhor que estava comigo no 'circular', mas que eu não tinha trocado nenhuma palavra, passa por mim, me pega pelo braço e começa a falar em tcheco. Tento explicar que eu não estava entendendo, mas ele não dá atenção. No meio das palavras eu entendo 'Praha' e resolvo esperar para ver o que ia acontecer. Pois ele me levou exatamente no local do ônibus onde, por sorte, houve um desistente. Sorte de novo!


"Putting the 'fast' in Belfast since 1977."

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Uma caminhada noturna pelo centro

Hoje meu melhor amigo foi o Sr. Gellner. E, apesar de ter sido sim um dia divertido - poucas pessoas podem escrever um texto tão denso de uma maneira tão divertida, aposto - não me parecia que ficar em casa nesta noite, sozinho e sem cerveja, seria um boa ideia. Resolvi sair pra caminhar. Planejei pegar o metro, saltar em Karlovo náměstí e, acompanhando o rio, chegar até Náměstí Republiky.

Seria uma boa caminhada. Imaginei (o que de fato se concretizou) que seriam umas duas horas caminhando bem devagar. 
O frio, para mim, estava bem gostoso, mas eu estava com três blusas mais o cachecol, que eu não saio de casa sem. O divertido de andar sozinho pela cidade assim é que você pode prestar atenção em algumas coisas e ouvir a cidade de um jeito que acompanhado não acontece. Ouvi espanhol, ouvi algo que eu tenho quase certeza ser alemão ouvi brasileiros planejando a noite com "duas loiras lindas", segundo eles. E muita gente um pouco tonta olhando para o Castelo todo iluminado do outro lado do rio.




Eu gosto realmente de caminhar pelas ruas. Pode ser o resultado de ainda ser tudo um pouco novidade para mim, mas acho que o fato dos lugares serem convidativos para um passeio também ajuda. Na beira do rio, vários bancos em que a gente pode ficar sentado e olhando para uma paisagem assim, ajuda a qualquer um querer caminhar.

De repente eu resolvi me perder um pouco e me jogar pra dentro da cidade velha. Entre uma viela e outra, sem mais nem menos estava ao redor de Staroměstské náměstí e, de novo, não era hora do relógio bater as horas...


E ainda é possível encontrar algumas árvores ainda soltando as folhas.

O centro é sim muito charmoso. Quero muito sair um dia pra caminhar por onde existem os barracões abandonados das fábricas e por volta dos conjuntos habitacionais que eu falei. Mas o que eu mais gosto do centro de Praga são os prédios re-significados pelos artistas de rua. Não é demagogia: adoro uma parede pichada.

A verdade é que cansei, e a viagem de volta pra casa foi sentadinho no metrô, pensando nas escadas que teria que subir até chegar ao apartamento. Mas aí fiz um amigo e viemos conversando no chacoalhar do vagão.

Amanhã tem Stiff Little Fingers. Até...


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Estréia

Não queria escrever um blogue relatando a minha experiência em terras europeias. Não que eu não goste de escrever, mas que eu tenho uma tendência a me tornar irregular e, quando escrevo, um pouco reflexivo demais (e não uma coisa Dostoiévski, mas algo chato mesmo)! Porém, foram tantos os pedidos, tão singelos tão sentidos, que eu dominei meu asco.
Hoje foi o dia que eu limpei casa. Havia tempo que eu não fazia isso e me deixava viver complacente sempre lembrando que, se eu não limpasse, alguém limparia. Além desse exercício físico incrível de esfregar o banheiro, ainda uma caminhada pelo centro decretou que o fim da noite seria de estudos caseiros.


Mas, antes, uma parada na estação de metro Hůrka me mostrou o que, possivelmente, foi a melhor representação do imaginário que tinha, antes de viver aqui, do Leste Europeu: vários e vários prédios quadrados, um ao lado do outro. 






Não sei se foram os inúmeros filmes do James Bond, ou as vezes em que vi Eurotrip, mas pra mim isso era Leste Europeu e, até hoje a tarde, eu não tinha visto nada assim. Eu moro em um pequeno condomínio quadrado, mas nada tão grande como esse. Tenho até vontade de um dia, pegar o metro e ir dar uma volta em meio a esses blocos de apartamentos.